Valter Campanato / Agência Brasil
Em um misto de campanha eleitoral e a usual demonstração de vigor militar ante o Ocidente, o presidente russo Vladimir Putin embarcou nesta quinta (22) em um bombardeiro estratégico Tupolev Tu-160M, uma das versões modernizadas de seu mais poderoso avião de combate.
Segundo o Kremlin e a TV estatal russa, o voo durou cerca de 30 minutos em uma rota secreta, partido de Kazan (centro russo). Imagens que circularam em redes sociais já mostravam Putin subindo a escada do enorme avião em uniforme de aviador, o que sugere que a ação já havia acontecido antes de seu anúncio, o que faz sentido do ponto de vista de segurança.
Não é a primeira vez que o presidente russo embarca num Tu-160. Em 2005, já no seu segundo mandato, ele participou de uma missão de treinamento na aeronave que testou o disparo de um míssil de cruzeiro Kh-555, que viria ação 17 anos depois na Ucrânia.
Na véspera, Putin havia visitado a fábrica da Tupolev em Kazan, 800 km a leste de Moscou. Foi fotografado com uma comitiva em um hangar com modelos Tu-160M, o M de modernizados.
Faltando menos de um mês para o pleito presidencial russo, na qual é a reeleição de Putin é uma certeza, o voo colabora para a propaganda doméstica e externa. Do ponto de vista interno, é a retomada da venda da imagem do presidente como líder militar, ao gosto da virilidade eslava.
Para consumo externo, é parte de um momento celebratório para Putin, cujas forças estão na ofensiva após um ano sob ataque na Ucrânia. Com o fracasso da tentativa de Kiev de cortar sua ligação terrestres com a Crimeia anexada, os russos avançaram no leste, abrindo buracos numa linha de defesa estabelecida desde a guerra civil de 2014 na região, e pressionam posições no sul do país.
O Tu-160 é usado com bastante parcimônia na guerra, diferentemente de seu irmão mais velho, o Tu-95, responsável pelo grosso dos lançamentos de mísseis de cruzeiro a partir do espaço aéreo russo contra a Ucrânia.
Ambas as aeronaves são o esteio da força estratégica russa, capazes de lançar ataques convencionais e nucleares a grande distância. Mas o Tu-160 é um animal à parte no plantel de Putin: é o maior e mais pesado supersônico de combate em ação no mundo.
Do inventário contado pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (Londres), há 6 aviões mais antigos operacionais e 7, da versão M. Outras três unidades são da ainda mais modernizada versão M2, que a Tupolev voou pela primeira vez pouco antes da guerra e diz ser 80% nova, retrabalhada em ambiente digital.
Por fora, ela lembra o Tu-160 clássico, conhecido no Ocidente como Blackjack e entre russos como Cisne Branco. Ele voou pela primeira vez em 1981 e estreou em operação seis anos depois. Foram feitos ao todo 27 aviões, e uma nova encomenda de 10 unidades do modelo M2 foi feita em 2018.
O avião estreou em combate na guerra civil da Síria, sendo estrela de diversas patrulhas de longa distância desenhadas para assustar o Ocidente e lembrar suas Forças Aéreas das capacidades do aparelho. Em 2020, o supersônico bateu o recorde mundial de alcance de voo, com 20 mil km e 25 horas no ar, com reabastecimento.
A aposta de Putin no Tu-160 vem do fato de ele ser uma plataforma conhecida. A asa voadora subsônica e furtiva PAK-DA não sai da fase de protótipo estático há anos, ao contrário da segunda geração desse tipo de bombardeiro, o B-21 Raider americano, que já fez seu primeiro voo.
O Tu-160 pode levar 45 toneladas de armamento, seis mísseis de cruzeiro ou 12 mísseis com ogivas nucleares de curto alcance.
O centro de sua frota estratégica, contudo, são as versões modernizadas do mastodôntico Tu-95, um quadrimotor com oito hélices que está voando desde os anos 1950. Há 58 deles na Força Aérea e 22, na versão de patrulha naval. O time é complementado por 61 Tu-22, em diversos modelos, supersônico com capacidade nuclear com menor capacidade.