Anualmente, cerca de US$ 62 bilhões são gastos por consumidores com tratamentos antienvelhecimento, segundo algumas estimativas. Mas mesmo que os cremes para a pele, as tinturas de cabelo e o botox possam fazer com que uma pessoa pareça mais jovem, nenhum deles pode fazer o tempo retroceder.
As causas biológicas do envelhecimento estão sendo estudadas por cientistas na esperança de que ferramentas estejam disponíveis para retardar ou deter seus sinais visíveis e, mais importante, as doenças relacionadas a ele. Esses mecanismos subjacentes são frequentemente chamados de “indicadores de envelhecimento”. Muitos são divididos em duas grandes categorias: desgaste geral em nível celular e diminuição da capacidade do organismo de eliminar células e proteínas antigas ou disfuncionais.
“Os indicadores de envelhecimento são importantes porque envolvem processos que não funcionam de forma adequada durante o envelhecimento e, se forem revertidos, é possível viver mais ou de maneira saudável à medida que envelhecemos”, explicou a professora e pesquisadora Linda Partridge, da Divisão de Biociências da Universidade College de Londres, que ajudou a desenvolver a base conceitual desses indicadores.
No geral, até o momento as pesquisas nessa área foram feitas principalmente em animais, mas estão sendo gradualmente expandidas para os seres humanos pelos especialistas. Enquanto isso, “compreender como funciona o processo de envelhecimento pode nos ajudar a contextualizar os conselhos e as informações sobre as últimas ‘descobertas'”, disse Venki Ramakrishnan, bioquímico que recebeu o Prêmio Nobel de Química e que escreveu sobre muitos dos indicadores de envelhecimento em seu novo livro: Why We Die: The New Science of Aging and the Quest for Immortality (“Por que morremos: a nova ciência do envelhecimento e a busca pela imortalidade”, em tradução livre).
O “The New York Times” perguntou a especialistas em indicadores de envelhecimento como estes podem causar doenças e como os cientistas estão tentando modificá-los. Selecionamos, de uma lista, os dois principais: desgaste e problemas de eliminação.
Muitas das mudanças relacionadas à idade acontecem porque nossas células, e até mesmo nossos genes, se danificam e se comportam de maneira inadequada à medida que envelhecemos.
Problemas com o DNA
Embora possamos imaginar que nossos genes estão programados desde o nascimento, o DNA acumula mudanças ao longo dos anos. Às vezes, erros são introduzidos enquanto uma célula se divide, e outros surgem de forma espontânea, como um erro de digitação que acontece quando o DNA é copiado e colado de uma célula para outra. Também pode haver mutações em decorrência de exposições ambientais, como a radiação ultravioleta proveniente do sol.
Nossas células têm mecanismos para reparar essas mutações genéticas, mas sua eficácia diminui com a idade, o que significa que os erros podem se acumular. Os cientistas não sabem exatamente por que esses sistemas de reparo do DNA se deterioram. “É a pergunta de US$ 1 milhão. A única coisa que sabemos é que sua eficiência se reduz com a idade”, comentou Andrew Dillin, professor de biologia molecular e celular da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
A principal consequência disso é que as células param de funcionar corretamente e são “marcadas como lixo” (mais sobre isso adiante). Na pior das hipóteses, podem ocorrer mutações em genes que suprimem tumores, levando ao desenvolvimento de câncer.
Problemas com os cromossomos
Cada vez que uma célula se replica e seu DNA é copiado, as extremidades de seus cromossomos se encurtam um pouco. Essas partes especiais do genoma são chamadas de telômeros, e são frequentemente comparadas às pontas plastificadas dos cadarços, que impedem seu desgaste.
Quando os telômeros de uma célula se encurtam demais, ela para de se dividir. Esse processo é saudável quando somos jovens, porque impede que as células se reproduzam indefinidamente e se tornem cancerígenas. À medida que envelhecemos, porém, o encurtamento dos telômeros se torna um problema, sobretudo em células-tronco, que o corpo usa para repor a pele, o sangue e outros tecidos. Elas têm um mecanismo especial para combater isso, mas eventualmente até elas perdem seus telômeros. “Quando isso acontece, elas não podem mais se dividir, e se perde a população de células-tronco”, observou Dillin.
O esgotamento dessas células contribui significativamente para alguns dos indicadores físicos de envelhecimento, como o surgimento de cabelos grisalhos e a pele mais fina e menos elástica. Alguns cosméticos para a pele afirmam que repõem as células-tronco, mas existem poucas provas de que sejam eficazes.
Problemas com o epigenoma
Outras mudanças surgem por intermédio do que é conhecido como epigenética: modificações químicas no genoma que influenciam quais genes são ativados ou desativados em uma célula. Algumas dessas mudanças acontecem naturalmente enquanto nos desenvolvemos, enquanto outras são causadas pelo ambiente em que estamos inseridos. Alguns especialistas dizem que as mudanças epigenéticas podem ser usadas para determinar a “idade biológica” de uma pessoa.
Os cientistas descobriram que muitos dos mecanismos epigenéticos que ajudam a controlar a atividade celular, e até mesmo a identidade de nossas células, começam a se deteriorar com a idade. Quando isso acontece em muitas células, a saúde e o funcionamento dos órgãos podem ser afetados. Por exemplo, mudanças epigenéticas nas células do coração às vezes contribuem para o espessamento das artérias ou para diminuir a capacidade do órgão de responder positivamente ao exercício.
O dr. Eric Verdin, presidente do Instituto Buck de Pesquisa do Envelhecimento, explicou que atualmente existem muitos estudos sobre as mudanças epigenéticas porque são mais facilmente reversíveis do que as mutações no DNA.
Problemas com as mitocôndrias
Um componente fundamental da saúde celular é a produção de energia, que acontece nas mitocôndrias, a usina de energia celular. À medida que envelhecemos, essas organelas também passam a não funcionar tão bem quanto antes, tornando-se menos eficientes e, consequentemente, gerando menos energia. “A eficácia de todos os outros processos celulares fica comprometida quando não se tem energia suficiente”, disse Verdin, que está envolvido em duas empresas especializadas em medicamentos contra o envelhecimento.
De acordo com Dillin, as mudanças nos níveis de energia da célula também afetam outros aspectos da saúde celular, como a epigenética. As mitocôndrias danificadas também podem sair da célula e causar inflamação, outro aspecto do envelhecimento associado a muitas doenças crônicas.
O exercício regular – a principal recomendação dos especialistas para envelhecer bem – é uma das melhores maneiras de melhorar a saúde mitocondrial.
Em decorrência dos problemas mencionados anteriormente, as células defeituosas não só se acumulam com a idade, mas a forma como o corpo se livra delas também se deteriora.
Problemas para eliminar células disfuncionais
Um dos meios mais importantes de lidar com células disfuncionais é relegá-las a um estado conhecido como senescência. Elas param de se dividir e começam a secretar substâncias químicas inflamatórias que sinalizam ao sistema imunológico que se livre delas.
Normalmente, isso não é um problema – na verdade, é uma parte necessária da renovação celular normal –, mas, à medida que envelhecemos, duas coisas acontecem. Em primeiro lugar, existem mais células que precisam ser eliminadas. Em segundo, o sistema de eliminação começa a falhar. Como resultado, as células senescentes se acumulam, causando cada vez mais inflamação.
Os cientistas estão explorando métodos para aumentar a eliminação de células senescentes com uma classe de medicamentos conhecidos como senolíticos, embora a pesquisa ainda esteja em estágios preliminares.
Problemas para eliminar proteínas ruins
A maioria das células executa suas funções por meio das proteínas que são produzidas. Se o DNA é a planta de uma casa e as células são os construtores, as proteínas são a madeira, os pregos e as placas de gesso.
É comum que elas sejam danificadas – geralmente, são chamadas de proteínas mal dobradas – e existem muitas maneiras de corrigi-las. Mas, novamente, esses processos começam a falhar à medida que envelhecemos, e as proteínas mal dobradas se acumulam e causam problemas. Uma doença notória associada a proteínas mal dobradas é o mal de Alzheimer, no qual o amiloide e a tau – proteínas cerebrais – formam placas e emaranhados no cérebro.
A autofagia, que significa “comer a si mesmo” em grego, é uma maneira de o corpo se livrar de proteínas mal dobradas, assim como de outras partes disfuncionais das células. “A autofagia é o processo pelo qual todos os componentes disfuncionais celulares são destruídos. Se houver qualquer interferência nesse mecanismo, surge esse acúmulo de ‘lixo’ na célula, o que, por sua vez, causa estresse e envelhecimento”, observou Ramakrishnan.
A autofagia diminui com a idade. Alguns medicamentos cujos efeitos no envelhecimento estão sendo estudados, sobretudo a rapamicina, aumentam esse processo. Mas, em doses elevadas, a rapamicina suprime a resposta imunológica (é usada principalmente para prevenir rejeição em transplantes de órgãos), por isso alguns pesquisadores estão preocupados com o fato de pessoas saudáveis estarem tomando o medicamento.
Os especialistas concordaram que as terapias experimentais antienvelhecimento ainda não estão prontas para uso generalizado, embora estejam otimistas quanto ao futuro desse campo de pesquisa. “Eu diria que até agora o progresso foi lento, mas os avanços virão”, afirmou Partridge, acrescentando que, por enquanto, o melhor que as pessoas podem fazer para envelhecer bem é adotar hábitos de vida saudáveis, como exercícios e uma boa alimentação.
c. 2024 The New York Times Company
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