Desde que anunciou um rombo de R$ 20 bilhões e entrou em recuperação judicial, nos primeiros dias de 2023, a Americanas acumula números negativos: perdeu mais de 90% do valor de mercado, demitiu 5 mil funcionários e fechou 126 lojas físicas.
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Depois de tratar, inicialmente, o rombo como um problema contábil, a Americanas admitiu, em junho, que se tratava de uma fraude cometida pela diretoria anterior. O caso chegou a ser investigado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara dos Deputados e a Comissão Mobiliária de Valores ainda vai apurar o escândalo.
Fundada há 95 anos, a varejista chegou a valer R$ 110 bilhões, em agosto de 2020; com a alta dos juros e a forte concorrência, perdeu valor de mercado e estava avaliada em R$ 10,8 bilhões, em 11 de janeiro de 2023, quando o rombo bilionário foi anunciado.
Agora, um ano depois do início da crise — a maior em uma empresa privada brasileira —, a Americanas vale R$ 776 milhões, ou seja, uma queda de 93% em relação ao ano passado.
Os números da varejista
Em 2022, a Americanas era responsável por 13% das vendas pela internet no Brasil. Ao longo de 2023, no pior momento do ano passado, esse porcentual chegou a cair para 4,3%. Já a queda das vendas nas lojas físicas foi menor, o que permitiu a sobrevivência da rede.
Desde 1982, o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles é dono da Americanas. Eles transformaram a companhia numa das maiores varejistas do país e, a partir de 2006, com a fusão com o Submarino e a criação da B2W, a Americanas passou a investir fortemente no comércio eletrônico.
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Mesmo com o crescimento, a Americanas passou a operar, desde 2011, no vermelho, e, para financiar investimentos, fez diversas operações no mercado para aumento de capital, o que pode ter contribuído para aumentar o rombo.
Depois do rombo, o trio de acionistas recorreu a uma modalidade de empréstimo concedido a empresas em dificuldades de R$ 2 bilhões. Com ele, os bancos vão converter quase 80% de suas dívidas em ações, e o trio de acionistas vai colocar R$ 12 bilhões no grupo. Com isso, os bancos e os acionistas de referência vão ficar com 98% do capital da Americanas.
Americanas vai se concentrar em lojas físicas
Recentemente, os principais credores — incluindo os bancos — aceitaram o plano de recuperação judicial da Americanas. Depois da crise e com a contabilidade organizada, a Americanas deve se concentrar no retorno às origens da operação física. “A primeira parte do que a Americanas vai ser é o varejo do sortimento do Brasil”, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo o presidente da Americanas, Leonardo Coelho Pereira.
No comércio digital, a companhia vai vender apenas produtos presentes nas lojas físicas. O restante será repassado a terceiros, que vão vender por meio dos sites do grupo.
Leia também: A fraude histórica da Americanas e o tempo de Glória, artigo de Bruno Meyer publicado na Edição 151 da Revista Oeste.