Quem presencia um confronto entre os dois rivais de Glasgow, seja no Ibrox ou no Celtic Park, verá um estádio coberto de bandeiras tricolores da República da Irlanda, orgulhosamente levantadas pelos fãs do Celtic, e do outro lado, entre as camisas predominantemente azuis e laranjas, são orgulhosamente apresentadas as Union Jack (bandeiras do Reino Unido).
Um estrangeiro que não conheça um pouco da história de Glasgow e da Escócia, e já agora do Reino Unido e Irlanda, seria levado a perguntar: “onde estão as bandeiras da Escócia”?
Católicos x Protestantes
A rivalidade entre os dois clubes tem raízes que vão muito além da pura rivalidade esportiva. A religião é apontada como a razão principal para a divisão entre os católicos do Celtic e os protestantes do Rangers, mas a rivalidade no Old Firm (velha firma) tem também fortes influências políticas.
qO rancor está onipresente no dérbi escocês e quando os fãs do Rangers cantam para os adversários “até aos joelhos em sangue feniano, rendam-se ou morrem!”, cantam-no com a raiva e um orgulho indisfarçável.
Os torcedores do Celtic, em sua maioria descendentes de imigrantes irlandeses, são republicanos e apoiantes da causa nacionalista irlandesa, enquanto do outro lado, os protestantes “orangistas” do Rangers apoiam incondicionalmente a coroa britânica. O rancor está onipresente no dérbi escocês e, quando os torcedores do Rangers cantam para os adversários: “até aos joelhos em sangue feniano, rendam-se ou morrem!”, cantam com a raiva e um orgulho indisfarçável.
A rivalidade doentia de Glasgow está ilustrada no número de assaltos, confrontos, desacatos e mortes provocadas nas horas que se seguem a cada Old Firm. No fim da década de 90 os números apontavam para um aumento de nove vezes no número de pacientes que davam entrada nos hospitais da cidade nas 24 horas depois do dérbi. Política, religião, violência, mas onde entra o futebol em tudo isto?
Um negócio entre vizinhos
A história do nome Old Firm remonta a 1909, quando um enorme motim em Hampden Park, entre jogadores e mais de 60 mil torcedores das duas equipes, interrompeu a realização da final da Copa da Escócia.
Tudo começou quando os rumores se espalharam que as duas equipes tinham combinado um empate para lucrarem financeiramente. A “negociata” ficou marcada no clássico, que assim ganhou o nome de Old Firm devido ao fato de os dois clubes lucrarem com a antipatia mútua. Nascia a “Velha Firma”.
Leões de Lisboa: era dourada do Celtic
Desde 1890 que os Rangers fecharam as portas a jogadores de outras religiões, com objetivo óbvio de segregar os católicos.
Por seu lado o Celtic, apesar de fundado por um padre, de estar ligado aos católicos e irlandeses, e de assumir com orgulho essa herança, a verdade é que ao contrário dos rivais, o clube verde-e-branco nunca segregou torcedores nem jogadores de outras religiões.
qJock Stein, o mítico treinador dos “católicos de Glasgow”, fazia questão de contratar jogadores protestantes e de outras religiões, pois sabia que o Rangers nunca iria buscar um craque católico.
Kenny Dalglish, protestante, e adepto do Rangers desde pequeno, foi um dos craques que brilhou de verde-e-branco e com um trevo ao peito, isto porque Jock Stein, o mítico treinador dos “católicos de Glasgow”, fazia questão de contratar jogadores protestantes e de outras religiões, pois sabia que o Rangers nunca iria buscar um craque católico.
Após meio século de relativo equilíbrio, com ligeira vantagem para os azuis, o Celtic tomou a liderança conquistando nove campeonatos seguidos entre 1965-66 e 1973-74. Foi também durante esse período áureo que o Celtic conquistou a Copa dos Campeões Europeus (atual Liga dos Campeões), tornando-se o primeiro clube britânico a conseguir tal feito. O fez batendo a toda-poderosa Inter de Milão, em Lisboa, com uma equipe constituída apenas por jogadores nascidos a uma distância máxima de 50 quilómetros de Celtic Park. Essa grande equipe, comandada por Jock Stein, entrou para a história como os “Leões de Lisboa”.
Glória em tons de azul
A glória europeia do Rangers chegou através da então segunda competição mais importante da Uefa, conquistada frente aos alemães do Bayern de Munique em 1972. A nível interno, o domínio azul acentuou-se entre 1989 e 1997, com a conquista de uma série de nove campeonatos seguidos, igualando o feito do Celtic, e cavando o fosso no número de Ligas conquistadas.
Ao longo de décadas o título da Escócia foi monopolizado pelos dois vizinhos e rivais, que se apoderaram de 96 das 115 edições do Campeonato Escocês.
A ditadura dos dois de Glasgow é tão grande que desde que a nova Premier League escocesa começou, em 1998, só por uma vez uma equipe, o Hearts, conseguiu roubar o segundo lugar a um dos dois clubes da Old Firm. O título já não escapa a nenhum dos dois desde 1984-85, quando o Aberdeen, comandado por Alex Ferguson, celebrou a conquista.