A alta de casos de dengue no país, que enfrenta uma epidemia da doença, com oito estados e o Distrito Federal em situação de emergência, acende o alerta para o risco de diminuição das plaquetas. Para entender melhor por que a redução ocorre e como reverter a situação, o R7 conversou com um especialista.
As plaquetas são uma das três principais células da corrente sanguínea, além dos glóbulos brancos — também conhecidos como leucócitos — e os glóbulos vermelhos. “Plaquetas desempenham um papel crucial na coagulação sanguínea e ajudam a prevenir o sangramento excessivo”, explica o infectologista Manuel Renato Palacios.
Ele afirma que as plaquetas, que são produzidas na medula óssea e circulam na corrente sanguínea, “entram em jogo” quando acontece algum corte ou lesão no corpo e “criam um tampão, chamado coágulo, para interromper o sangramento”.
Palacios pontua que, diferente do que é dito popularmente, a quantidade de plaquetas não é o que determina a gravidade de um caso de dengue. Segundo ele, em casos de dengue, o número de plaquetas começa a cair por volta do quarto dia da doença.
Antes disso, a porcentagem de glóbulos vermelhos com relação ao total de células no sangue aumenta por causa da desidratação e perda de líquido.
Segundo o Ministério da Saúde, a dengue é uma doença causada por um vírus e causa febre alta, dor de cabeça, fadiga, dor no corpo e outros sintomas.
Palacios diz que alguns fatores explicam a diminuição do número de plaquetas durante a dengue, entre elas:
• o vírus danifica diretamente as plaquetas;
• a própria resposta imune do corpo, através dos anticorpos, ataca as plaquetas; e
• uma disfunção da medula óssea que reduz a capacidade de produção de plaquetas.
O infectologista explica que a diminuição do número de plaquetas aumenta o risco de sangramento no corpo, já que a capacidade de coagulação fica menor. Nesse caso, um simples machucado, como um joelho ralado por uma queda, pode criar grandes hematomas e sangramento insistente.
Além disso, Palacios afirma que outros tipos de sangramento podem acontecer, como nas gengivas, durante a escovação, no nariz, e até na urina e nas fezes. Mulheres no ciclo menstrual podem ter aumento do sangramento e um ciclo mais longo que o normal. “Em casos extremamente sérios, pode até ter sangramento intracerebral”, diz.
O médico explica que, por esse motivo, remédios anti-inflamatórios ou anticoagulantes, como ibuprofeno, nimesulida e AAS (ácido acetilsalicílico) são contraindicados para dengue.
“Nos idosos, a queda de plaquetas pode ser particularmente problemática pela possível presença de comorbidades que podem exarcebar os sintomas”, pontua.
Outro ponto de atenção em idosos é sobre a medicação, já que eles podem tomar anticoagulantes no dia a dia para tratar alguma doença. Nesse caso, Palacios afirma que o médico deve ser consultado o mais rápido possível, para saber se o medicamento deve ser suspenso ou não.
“Não existe receita para aumentar plaqueta”, enfatiza o infectologista. “Ela vai aumentar até que o sistema imunitário consiga controlar o vírus, até terminar de destruí-lo totalmente”.
Segundo ele, conforme o vírus for combatido com a medicação e tratamento correto, as plaquetas vão aumentar como consequência.
Palacios pontuou os perigos de seguir receitas caseiras populares na internet, como suco de inhame ou folha de mamão, que não possuem nenhum tipo de comprovação científica. “O risco disso é que [o paciente] acha que tomar essas soluções caseiras vai melhorar a situação, e ele atrasa a ida ao hospital e pode passar do ponto crítico”, alerta.