No começo deste ano, foi oficializado que eu teria meu próprio blog aqui no Portal R7. Fiquei extremamente feliz com essa oportunidade e, assim que começou o processo para criar a página, me veio um pensamento específico: com qual texto ou matéria eu vou estrear o blog quando ele estiver pronto?
Faço uma resenha do novo álbum da Beyoncé? Ou falo do lançamento da Ariana Grande? E se eu escrever sobre os dois? Crio uma lista de artistas que acho que vão bombar em 2024? Ou faço minhas primeiras apostas para o Grammy 2025? Vieram muitas ideias, mas eu não conseguia decidir absolutamente nada. Enquanto isso, a estreia se aproximava e eu ficava mais e mais ansioso.
De repente, a resposta caiu no meu colo como um presente. Que jeito melhor de estrear meu blog do que entrevistando uma das artistas mais legais do momento? Sou fã da cantora canadense Allie X há bastante tempo, já até fui em shows dela no passado, mas nunca tive a chance de conversar com ela. E ando ainda mais viciado nas músicas da Allie atualmente, após o lançamento de seu álbum mais recente, o excelente e elogiado Girl With No Face.
Foi meu amigo, o cantor Tolentino, quem trouxe essa oferta irrecusável. Ele tinha acabado de lançar um remix oficial de uma das músicas dela, ao lado dos também brasileiros (e também maravilhosos) Frimes e FUSO!. Quando soube que eu adoro a Allie, ele perguntou: “Quer falar com ela?”. Eu não poderia perder essa chance de jeito nenhum, então topei e, pouco tempo depois, já estava em ligação com a Allie.
Falamos sobre vários assuntos, como sua forte conexão com o Brasil, o gosto por artistas daqui, como Gal Costa e Jorge Ben Jor, a desilusão pela maneira como algumas gravadoras tratam seus artistas, a curiosa história da música “Galina”, além do que podemos esperar dos próximos passos da carreira dela.
Confira abaixo o meu papo completo com a diva Allie X.
Primeiramente, eu queria saber como você está se sentindo, já que o álbum foi lançado há mais ou menos um mês, e eu sei que o primeiro mês de divulgação é meio maluco, não é?
Allie X: Tudo está dando uma desacelerada. Neste ponto, eu estou tão cansada, na verdade [risos]. Eu acho que, recentemente, eu finalmente deixei meu corpo descansar e desacelerar. E agora meu corpo só quer dormir e tomar sopa o tempo todo.
Falando em sopa, nós brasileiros vimos algo muito engraçado nas redes sociais, que foi você cantando, em português, uma musiquinha sobre comer sopa. De onde surgiu isso?
Allie X: Meu parceiro é do Brasil e ele criou essa música, como uma piada. E aí eu cantei [risos].
Ainda falando sobre o Brasil, você tem uma grande base de fãs por aqui. Fãs bastante apaixonados. Como é a sua relação com o país?
Allie X: Eu estou com o meu parceiro há 10 anos, então eu estive no Brasil algumas vezes. Eu tenho uma “família estendida” aí. Ouvi músicas clássicas do Brasil, provei comidas. Eu pude viver muitas experiências no Brasil, e foi muito legal. Os shows que fiz aí foram muito loucos!
Você lançou um remix da sua música Black Eye com três artistas brasileiros: o Tolentino, a Frimes e o FUSO!. Como veio a ideia para essa colaboração que transforma a música em uma versão meio funk?
Allie X: Eu conheci o Allan [Tolentino] há alguns anos, quando ele tirou fotos minhas no Brasil. Ele se ofereceu para fazer o remix acontecer, eu achei o som legal e foi meio que isso.
Falando sobre composição. Eu acho que você é uma fantástica compositora.
Allie X: Ah, muito obrigada!
É verdade. Você costuma usar coisas pessoais para as canções e nós vimos Galina se transformar em uma favorita dos fãs neste álbum. É uma história tão única [sobre uma senhora, chamada Galina, que manipulava um creme natural para um eczema que Allie tinha, e que foi a única que conseguiu aliviar esse problema de pele. Um dia, Galina decidiu se aposentar e levou com ela a receita ‘mágica’ do tal creme]. Como você decidiu transformar essa história em uma canção?
Allie X: Eu sempre tive a ideia de escrever uma música chamada “Galina, wake up” [Galina, acorde!]. Não sempre, mas desde que passei por essa experiência com uma pessoa chamada Galina. Eu comecei fazendo a batida, antes de ter a letra. E eu estava olhando minhas anotações, daí achei a frase “Galina, wake up”, e funcionou.
Eu vejo que, neste álbum, nós temos essas histórias peculiares, como em John and Jonathan. Quando você está vivendo alguma coisa, passa pela sua cabeça “Hmmm, talvez eu deva escrever sobre isso”?
Allie X: Eu tenho uma nota no meu celular com milhares de palavras e ideias que poderiam começar uma música, e eu as deixo ali para o momento em que eu for precisar delas.
Este álbum tem se tornado muito querido pelos seus fãs, vejo vários dizendo que talvez seja o álbum favorito deles em sua discografia. Por qual motivo você acha que os fãs estão se conectando tanto com este projeto?
Allie X: Isso me deixa feliz. Eu acho que é porque é o álbum que tem mais a minha cara, dentre tudo que eu já fiz. Eu não envolvi quase mais ninguém. Tenho um ou outro co-compositor aqui e ali, mas a maior parte [das músicas] veio do meu gosto e das minhas escolhas. Acho que as pessoas que estão me acompanhando há algum tempo podem sentir que estão me conhecendo melhor neste álbum. Acho também que é mais empolgante, porque vai para um lado mais alternativo. Se você gosta de ‘new wave’, definitivamente tem esse elemento também.
Essas músicas me fazem querer dançar, mas se você prestar atenção, elas falam de coisas profundas. É uma “sacada” interessante, não?
Allie X: Eu sempre gostei disso. Você não percebe o quanto algo é sombrio, porque você está dançando. E quando você percebe, o significado é ainda maior.
Este álbum é realmente muito dançante. Eu fui à festa de lançamento oficial que tivemos aqui em São Paulo, na Zig Duplex, e é tão divertido. É alternativo, como você disse, mas conseguimos ver e ouvir ele ganhando forma em uma pista de dança.
Allie X: Isso é tão bacana. As batidas não são necessariamente para as baladas, mas é muito dançável mesmo. Saber que funciona na balada me deixa muito contente.
É como se a gente voltasse no tempo, como se estivéssemos dançando numa balada nos anos 80 ou 90.
Allie X: Sim! Faz todo o sentido mesmo.
Você disse que esse álbum é basicamente só seu, mas você já teve algumas colaborações muito legais no passado, como o Troye Sivan ou a Mitski. Como você escolhe essas parcerias? Eu sei que algumas gravadoras querem muitas vezes empurrar algumas coisas, mudar seu som. Como você se manteve fiel à sua essência neste mundo em que querem tanto que um artista seja “comercial”?
Allie X: Eu meio que desisti disso há algum tempo. Acho que por eu nunca ter tido um momento de grande sucesso, nunca tive uma gravadora me pressionando para algo. Acho que é o contrário, eu estava buscando gravadoras interessadas em mim. E eu não acredito mais em gravadoras em muitos dos jeitos que as coisas são feitas atualmente na indústria musical. Sempre que você ouvir uma colaboração minha, geralmente é porque tenho alguma relação com aquela pessoa e tomei a decisão sozinha, ou falei com aquele artista e perguntei se ele queria fazer aquilo comigo. Eu gerenciei o projeto, então normalmente tudo passa por mim.
Já que falamos sobre você ter uma relação pessoal com o Brasil, existe alguém com quem você gostaria de fazer uma colaboração? Eu tenho uma sugestão
Allie X: [risos] Eu quero saber!
O cantor Jão tem um pop mais melódico que me faz pensar em vocês dois fazendo algo juntos. É muito bom.
Allie X: Estou procurando agora. Vou ouvir. Amei o nome da música Idiota [risos].
É um dos maiores hits dele! Você conhece algum dos grandes artistas brasileiros atuais?
Allie X: Eu não escuto muito da música moderna, mas conheço a Pabllo Vittar. Ela é uma amiga que eu vejo às vezes. E eu sei quem é a Anitta, mas não ouço tanto esses ritmos. Os artistas brasileiros que eu gosto são os mais antigos, clássicos, como Gal Gosta e Jorge Ben.
Que demais! Mas agora que você falou, eu consigo muito te imaginar fazendo um batidão com a Pabllo.
Allie X: Sim, para as baladas!
Eu sei que faz apenas um mês que o álbum saiu, mas você continua fazendo mais músicas? Planeja lançar mais vídeos para ele? Qual é o próximo passo?
Allie X: O próximo passo é focar na turnê, eu tenho uma grande turnê na América do Norte. Ok, não é tão grande, mas é algo importante para mim. Temos duas cidades no Reino Unido, uma na Irlanda. E eu estou custeando tudo, então toda a minha atenção está em fazer isso acontecer. Vocês precisam ficar ligados a respeito do resto, porque não tenho nada oficial para anunciar.
Eu preciso terminar fazendo a pergunta óbvia: Quando você virá ao Brasil? Eu sou massacrado se não pergunto isso.
Allie X: [risos] “Venha ao Brasil!”. Eu estou esperando apenas a oferta certa para ir.
Por favor, venha! Este é meu álbum favorito até agora neste ano. Quando Allan entrou em contato e perguntou se eu queria ligar para você, eu fiquei tipo “Claro que sim”. Este álbum me toca profundamente, mas como eu disse, também me faz querer sair dançando. Eu estou em um momento da minha vida em que este álbum parece a trilha sonora perfeita. Ainda que existam coisas mais profundas e emocionantes, ele me faz feliz.
Allie X: Awn! Isso é muito legal. Eu agradeço muito por isso, Felipe.
Obrigado novamente pelo seu tempo, Allie. Você quer dizer algo para os seus fãs daqui?
Allie X: [em português] Muito obrigada e beijos.
Espero te ver no Brasil muito em breve.
Allie X: Espero poder te ver também. Beijo!
Esse foi o meu papo com a Allie X. Obrigado a você que leu meu primeiro texto aqui no blog. Espero poder trazer mais conteúdos legais sobre cultura pop nesse espaço. Finalizo colocando abaixo duas músicas mais antigas da Allie que eu adoro para você ouvir. Um beijo do Glad!
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