Desde a invasão do país, muitas mulheres se voluntariaram para cargos militares de apoio e até linhas de combate
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Nos arredores de Bajmut, na Ucrânia, na linha de frente de um pelotão de artilharia, uma comandante de 32 anos chacoalhava de um lado para o outro no banco do passageiro de um Lada destruído, enquanto outro soldado dirigia o carro em meio a uma floresta densa, às vezes até derrubando árvores jovens. Quando chegaram ao destino, uma pequena vila a pouco mais de três quilômetros das linhas russas, só restavam casas destruídas, com os telhados arruinados visíveis à luz do luar
Nicole Tung/The New York Times – 29.10.2023
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A comandante, cujo nome de guerra é Bruxa, é uma ex-advogada que se alistou no Exército com a mãe e dois irmãos no dia seguinte à invasão russa, em fevereiro de 2022. Seu primeiro combate foi nas proximidades de Kiev, naquele mesmo ano, e desde então grande parte do que aprendeu sobre sistemas de armas foi de forma autodidata e na prática
Nicole Tung/The New York Times – 30.10.2023
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Desde o início de 2023, Bruxa tem estado com seu pelotão na Brigada 241, na área próxima a Bajmut, supervisionando todos os sistemas de artilharia. Está determinada a permanecer no Exército mesmo se a guerra acabar. “As pessoas que querem se juntar às Forças Armadas precisam entender que esse é um estilo de vida”, disse ela
Nicole Tung/The New York Times – 01.11.2023
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À medida que a Ucrânia luta contra os ferozes ataques russos e suas perdas aumentam, o número de mulheres que se juntam às Forças Armadas tem aumentado, e elas estão cada vez mais se voluntariando para funções de combate. O Exército ucraniano também tem se empenhado para recrutar mais mulheres e preencher suas fileiras
Nicole Tung/The New York Times – 30.10.2023
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Atualmente, as Forças Armadas ucranianas contam com cerca de 65 mil mulheres, aumento de 30 por cento desde o início da guerra. Segundo o Ministério da Defesa, em torno de 45 mil são militares e o restante ocupa cargos civis. Um pouco mais de quatro mil estão em cargos de combate
Nicole Tung/The New York Times – 29.10.2023
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Ao contrário dos homens, não existe serviço militar obrigatório para as mulheres na Ucrânia, exceto para as que possuem formação em medicina ou farmácia. Mas, ainda assim, elas ocupam um número crescente de cargos no Exército: médicas de combate em unidades de assalto; artilheiras superiores; atiradoras de elite; comandantes de unidades de tanques e baterias de artilharia, e pelo menos uma copilota de uma equipe de evacuação médica que sonha em se tornar a primeira pilota de helicóptero de combate da Ucrânia. Dezenas delas foram feridas em confronto, e algumas morreram ou foram capturadas
Nicole Tung/The New York Times – 29.10.2023
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Na linha de frente, elas operam sob o mesmo manto de medo e apreensão que os soldados homens. No abrigo fortificado, úmido e frio, no qual Bruxa e uma de suas equipes de morteiros passavam a maior parte do dia, eles esperavam praticamente no escuro no porão – acender as luzes significaria que a tripulação não poderia se adaptar rapidamente à escuridão se precisasse sair para abrir fogo
Nicole Tung/The New York Times – 31.10.2023
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Mais ao Norte, uma comandante cujo nome de guerra é Tesla, que antes era cantora folclórica ucraniana, estava sentada em um banco, encurvada, na casa vazia que servia de quartel-general da 32ª Brigada Mecanizada. As forças russas na região de Kupiansk estavam lançando ataques de artilharia sobre as linhas ucranianas
Nicole Tung/The New York Times – 29.10.2023
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Tesla estava enviando mensagens de texto e de voz para os soldados de sua unidade enquanto conversava com o vice-comandante sobre o plano de batalha. Sua calça grande estava erguida, revelando meias laranja neon com desenhos de abacates. Estava tentando redirecionar o fogo russo de outro batalhão para a posição de seus soldados, para que a outra unidade pudesse evacuar um companheiro gravemente ferido. “Três torniquetes em três membros”, veio a informação em uma mensagem de voz, contou ela. “Envie mais um. Quando terminarem, me avisem”, disse Tesla por uma mensagem de voz, ordenando que seus soldados atirassem novamente
Nicole Tung/The New York Times – 29.10.2023
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Até 2018, as mulheres eram proibidas de ocupar cargos de combate no Exército da Ucrânia, mas algumas desobedeciam às regras. As restrições foram amenizadas desde a invasão russa. O alistamento de milhares de novas mulheres tem sido amplamente visto como um passo bem-vindo para o país, cujas candidaturas para aderir à Otan e à União Europeia ainda estão em análise
Nicole Tung/The New York Times – 30.10.2023
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Muitas que atuam em posições de combate afirmam que os soldados homens e seus superiores diretos geralmente não as discriminam por gênero, mas que ainda existem insinuações sexuais e comentários inadequados. Por outro lado, são os comandantes mais experientes, muitas vezes remanescentes da era soviética, que desvalorizam as mulheres no Exército, sobretudo em funções de combate. Em alguns casos, elas optam por se alistar em brigadas recém-criadas, com comandantes mais jovens e dinâmicos. “Eu não quis me juntar a uma brigada criada há muitos anos porque sabia que não seria levada a sério como oficial por ser jovem e mulher”, afirmou Tesla
Nicole Tung/The New York Times – 01.11.2023
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Em uma ocasião, um comandante de brigada ficou tão indignado com uma mulher comandante de uma bateria de artilharia que a menosprezou diretamente. “Você vai rastejar de joelhos até mim e implorar para sair quando perceber que o trabalho é muito difícil, e não vou permitir que você deixe seu posto”, recordou ela do que ele disse, pedindo anonimato para falar abertamente sobre o assunto delicado
Nicole Tung/The New York Times – 29.10.2023
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Também surgiram denúncias de assédio sexual. Segundo algumas mulheres, não existem canais oficiais para relatar o assédio, exceto os comandantes de batalhão, que então têm de decidir se investigam a denúncia. Em alguns casos, de acordo com as soldados, as testemunhas podem se recusar a depor com medo de represálias. Elas afirmam que esses obstáculos, bem como o risco de prejudicar sua carreira militar, desencorajam as mulheres de denunciar o assédio
Nicole Tung/The New York Times – 29.10.2023
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Diana Davitian, porta-voz do Ministério da Defesa, declarou que, em 1º de janeiro, o Exército lançou uma linha direta na qual o assédio sexual pode ser reportado. Segundo ela, serão investigadas as denúncias e, se houver comprovação das acusações, medidas serão tomadas. O ministério também afirmou que planeja criar uma unidade separada, com o objetivo de garantir a igualdade de gênero e oferecer programas educacionais, incluindo um focado no combate à violência sexual relacionada à guerra
Nicole Tung/The New York Times – 29.10.2023
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De volta ao porão, Bruxa recebeu uma ligação do quartel-general: era hora de abrir fogo. A equipe saiu apressadamente até um pátio semicoberto a poucos metros de onde um canhão de morteiro estava preparado. O silêncio imperou enquanto Kuzya, de 20 anos, artilheira principal do pelotão de morteiros, olhava pela mira e lia as coordenadas em seu telefone. “Fogo!”, alguém gritou. Várias rajadas foram disparadas antes que a equipe retornasse ao porão, aguardando uma possível retaliação russa
Nicole Tung/The New York Times – 29.10.2023
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Alguns meses atrás, o namorado de Kuzya morreu em combate. Ela e Bruxa, que tem um filho de sete anos que ela viu poucas vezes no ano passado, pareciam encontrar conforto na companhia uma da outra. As duas mulheres treinavam no mesmo clube de judô em Kiev, na capital, e no dia seguinte à invasão se alistaram juntas
Nicole Tung/The New York Times – 29.10.2023
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Para muitas mulheres, a guerra e o desejo de estar no combate são algo para o qual se prepararam durante anos. Foxy, de 24 anos, ex-barista que virou artilheira e médica, voluntariou-se para fazer redes de camuflagem depois da escola quando era adolescente, antes de trabalhar com veteranos feridos. No ano passado, ela se alistou no Exército depois de semanas de treinamento
Nicole Tung/The New York Times – 29.10.2023
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O comandante de seu batalhão lhe deu duas opções: “‘Você é mulher. Pode trabalhar com documentos ou cozinhar borsch'” – a sopa de beterraba tradicional da Ucrânia –, lembrou Foxy. “Não tive escolha a não ser cuidar das papeladas até mudar de batalhão.” Depois ela passou a fazer parte de uma equipe de morteiros em alguns dos combates mais intensos na linha de frente em Bajmut, na qual fora tratada como igual por sua equipe. “Embora inicialmente tenha enfrentado algum tipo de sexismo, sinto que não preciso provar nada nem convencer ninguém do que posso fazer”, disse Foxy
Nicole Tung/The New York Times – 28.10.2023
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