Ou vai, ou racha. Começou a turnê de despedida do Sepultura, lendária banda do metal mineiro, a mais internacional das bandas brasileiras de todos os tempos. O primeiro show aconteceu nesta sexta-feira (01) em Belo Horizonte, e a turnê segue pelas cidades de Brasília (09), Uberlândia (15), Porto Alegre (21), Curitiba (22) e Florianópolis (23). Em São Paulo, os shows estão marcados para dias 6, 7 e 8 de setembro.
Ao todo serão 18 meses de shows (pelo Brasil, América Latina e Europa), mesmo com o anúncio repentino da saída do baterista Eloy Casagrande, especulado como novo integrante da banda norte-americana Slipknot.
Ainda assim, inundado por especulações (depois do fim a banda voltará com a formação original incluindo os irmãos Cavalera?), Sepultura é protagonista vivo do rock mundial e, estar nestes shows, é seguir em testemunho da evolução do metal dos anos 80, rumo ao fim de suas carreiras, nos dias atuais.
O ingresso mais barato, o promocional, estava custando R$ 120. Um preço justo, mas capaz de esgotar suas economias, te afogando em um mar vermelho de cheque especial, caso você também queira se aventurar na avalanche de shows internacionais confirmados neste ano.
O paraíso de um roqueiro pode se tornar seu maior pesadelo
R$ 2000. Pois é… Esse é o valor que custaria caso você desejasse saciar sua sede de rock (leia-se a minha sede de rock) na porrada de shows internacionais que acontecerá neste ano.
Lógico: isso considerando que você seja um ser vegetal, que se alimente através do sol e da chuva (sem a necessidade de consumir alimentos e bebidas durante os eventos), se locomova por teletransporte e se hospede como um roqueiro em situação de rua.
O levantamento foi feito no dia 26 de fevereiro pelo Blog Essa Eh do Rock, para shows que vão acontecer em Belo Horizonte, buscando sempre o ingresso mais barato e acessível, desconsiderando a meia entrada.
Dois paus é só para ingressos, meu chapa. E desconsiderando os grandes festivais de Rock que acontecem no Brasil, como Rock in Rio, Loolapalozza e Knotfest. Até para o público: é dura a vida de quem quer viver de rock.
Agenda de shows internacionais em BH
Festivais e “The Big Metal”
Se não faltam oportunidades de shows na agenda alternativa de metal, o mesmo também acontece no mainstream. Grandes shows, já confirmados, são aguardados neste ano. Principalmente para quem gosta de festivais.
Na capital paulista, Blink-182, Kings of Leon e Limp Bizkit tocam no Lollapalooza em março. Imagine Dragons é a atração confirmada no Rock in Rio em setembro. Slipknot já é certo no Knotfest em outubro. The Cure é a principal atração na Primavera Sound no final de novembro. Tudo em Sampa (fora o Rock in Rio). E a lista vai crescer, com o anúncio final das atrações de Rock in Rio e KnotFest.
Fora dos festivais esse ano também terá Eric Clapton em setembro. Shows em Curitiba (24), Rio de Janeiro (26 e 27) e São Paulo (29).
Já entre as “Big Metal” (alusão ao Big Four, as quatro mais influentes bandas norte-americanas de Thrash Metal), Megadeth toca, em apresentação única na capital paulista, em abril; e Iron Maiden, dezembro, também somente em São Paulo.
Grandes shows, grandes responsabilidades
A vida do metaleiro nunca foi fácil. Seja antes, no ostracismo, ou agora com essa avalanche de shows. Haja estratégia, e finanças, para ir no máximo de shows sem estourar o orçamento.
O administrador de empresas de Belo Horizonte, Alexandre Lage, fez as contas e definiu quais serão os shows que ele irá neste ano. “Vou no Napalm Death, Sinister e Asphyx. Exciter ainda estou pensando. Vou ter que escolher, pois são muitos. Vai depender da grana. Ir em todos não dá”, disse Lage.
Alexandre vê os dois lados desta situação. “É bom e ruim ter tantos shows na cidade. É bom porque faz o circuito rodar. A parte negativa é que, igual a mim, muitos vão ter que escolher em qual ir. Meu receio é que os shows fiquem vazios, já que o público vai se pulverizar entre tantas escolhas”, pondera o administrador de empresas.
No fim das contas, o preço de tantos shows pode custar caro demais. “O pior que pode acontecer são os promotores tomarem prejuízo e pararem de trazer shows pra cá nos próximos anos”, teme Alexandre.
Shows, bandas e pandemia
Foi Lídio Rabello o produtor cultural quem trouxe Crashdïet e HardCore SuperStar para Belo Horizonte, e agora produz o Crazy Lixx. Todas são bandas suecas de Glam Rock, o estilo musical que ele mais gosta.
Lídio acha que há públicos para todos, desde que seja respeitado um tempo entre os shows. “Uma pessoa que consome Cannibal Corpse não é, fora raríssimas exceções, a mesma que consome Bon Jovi. A meu ver, a concorrência não é entre shows, mas o intervalo de tempo. Não adianta trazer dois shows de Thrash Metal numa mesma cidade em um intervalo de duas semanas. Não dá nem o intervalo de trinta dias, para a galera receber o salário e se planejar”, analisa Lídio.
Marcio Siqueira, também produtor cultural e dono da MS BHz, concorda. Ele foi contratado para produzir os shows das bandas Nightfall e Sinister na capital mineira. “É um absurdo o tanto de show que tem entre março e abril. Eu não faria show, nem se fosse um Slayer, na data. Ano passado trouxeram o Kiss no Mineirão dias depois de tocarem no Monster of Rock em São Paulo. O público não chegou na metade do gramado. No fim é risco de muitas produtoras sumirem”, pondera Márcio.
Para Lídio, a avalanche de shows no Brasil ainda é um reflexo do período de reclusão durante a pandemia. “As bandas ficaram sem tocar por muito tempo, e o caixa das bandas diminuiu. Agora estão correndo atrás do prejuízo. Elas estão vindo para o Brasil como mercado alternativo, já que as agendas de shows na Europa estão lotados. Inflacionou. Mas não acho isso ruim. O resultado são eventos que agreguem todos os gostos musicais, de glam rock, trash, black heavy metal”, acrescenta.