As mulheres brilham na indústria musical e não é de hoje, mas muita gente lutou para que em pleno 2024 um Grammy Awards fosse dominado pelas artistas femininas. Muita água rolou embaixo da ponte e continua rolando: a cada ano, novas marcas são quebradas.
A história da música popular mostra que mulheres das mais variadas origens e com os mais diversos estilos musicais foram estimuladas pela mesma força motriz: criar canções que movessem pessoas e, por consequência, deixassem um impacto duradouro.
Nisso, elas foram muito bem sucedidas. Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, que acontece em 8 de Março, o TMDQA! selecionou apenas algumas das inúmeras pioneiras que ajudaram a trilhar um caminho um pouco mais igualitário na música.
Embora nem todas levantassem bandeiras, sua mera existência em um cenário cultural completamente dominado por homens era uma presença política e conquistada com muita garra. Relembre algumas dessas histórias abaixo!
Dolly Parton
Dolly Parton é uma lenda da música country, conhecida não apenas por sua voz, mas também por seu talento como compositora e empresária. Com uma carreira que abrange décadas, ela conquistou o recorde de mais hits de uma artista feminina na parada de músicas country da Billboard e construiu um império musical com o parque temático Dollywood, demonstrando sua habilidade em transcender os limites da indústria da música.
Dá pra ver como ela levou a sério aquela história de “Como Eliminar Seu Chefe” e se tornou a chefona do country.
Áurea Martins
Áurea Martins é uma figura icônica da música brasileira, cuja carreira de mais de 50 anos reflete sua contribuição significativa para o cenário musical do país. Ela surgiu no auge da bossa-nova, uma das únicas cantoras negras da cena dominada por brancos.
O que parecia improvável levou a uma trajetória de nove álbuns solo – um indicado ao Grammy Latino -, inúmeras participações em outros discos e um curta metragem sobre sua vida com mais de 21 prêmios (inclusive, o de melhor atriz). Em 2024, ela comemora 84 anos ainda nos palcos. Vida longa a Áurea Martins!
Carole King
Carole King compôs com o então marido, Gerry Goffin, por muitos anos. Durante esse tempo, eles escreveram muitos sucessos juntos, como “Will You Love Me Tomorrow”, “Take Good Care of My Baby” e “Up on the Roof”.
No entanto, no início dos anos 1960, King começou a buscar mais controle sobre sua música. Ela sentia que Goffin estava recebendo mais crédito do que ela pelas músicas que escreviam juntos. Ela também estava insatisfeita com a forma como os negócios da dupla eram gerenciados.
Em 1968, King finalmente se separou de Goffin, tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Ela assinou um contrato com a Ode Records e lançou seu primeiro álbum solo, Writer, em 1970. O disco foi um enorme sucesso, alcançando o primeiro lugar nas paradas e ganhando quatro prêmios Grammy. Ele levou ao clássico atemporal “Tapestry” pouco tempo depois, e o resto é história.
Ivy Queen
Como uma das primeiras e únicas mulheres no emergente gênero do reggaeton, Ivy Queen deixou sua marca na indústria da música latina. Sua carreira, que se estende por mais de duas décadas, é marcada por pioneirismo, inovação e empoderamento feminino. Em um gênero dominado por homens, Ivy se consolidou como uma força a ser reconhecida.
Seu sucesso “Quiero Bailar” falou algo impensável em pleno 2022: nas boates, as mulheres querem dançar sem serem molestadas. Ivy Queen tem esse nome não é à toa: a porto-riquenha é considerada a “Rainha do Reggaeton”, um título que conquistou por seu talento, força e impacto no gênero. Respeitem “La Reina”!
Sister Rosetta Tharpe
Conhecida como a madrinha do Rock and Roll, Sister Rosetta Tharpe foi uma das primeiras artistas a fundir o blues, jazz e gospel, criando um som inovador. Sua habilidade na guitarra elétrica e sexualidade queer a tornaram uma figura única na história da música, desafiando normas sociais e culturais em sua época.
Tharpe influenciou muitos grandes artistas do rock and roll, incluindo Chuck Berry, Little Richard, Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. Sua música e estilo ajudaram a moldar o som do Rock and Roll e abriram caminho para muitos outros.
Tharpe, infelizmente, não recebeu o reconhecimento que merecia durante sua vida. Ela foi finalmente introduzida no Rock and Roll Hall of Fame em 2018, mais de 20 anos após sua morte.
Madonna
Madonna é uma das artistas mais influentes da história da música pop, conhecida por sua reinvenção constante e seu impacto cultural sem precedentes. Sua abordagem provocativa de temas como religião, sexo e feminismo a estabeleceu como uma figura polarizadora na indústria da música, enquanto suas performances icônicas a transformaram em uma das artistas mais populares do mundo.
Prova disso é a alcunha de “artista feminina mais bem-sucedida de todos os tempos”, já que Madonna vendeu mais de 400 milhões de discos em todo o mundo, de acordo com o Guinness World Records, acima de nomes como Mariah Carey, Whitney Houston e Beyoncé.
Quer mais superlativo? É dela a turnê mais lucrativa de uma cantora. A “Sticky & Sweet Tour” de Madonna, realizada em 2008/2009, arrecadou mais de US$408 milhões, um recorde que ainda permanece imbatível. Madonna possui 60 singles que entraram no Top 40 da Billboard, mais do que qualquer outra artista feminina na história.
E segue até hoje desafiando padrões: que popstar de 65 anos você conhece que dança com roupas reveladoras nos palcos? Ela continua incomodando muita gente, mas sem pedir desculpas por ser quem é, pelo que acredita ou mesmo por sua aparência.
Ella Fitzgerald
Ella Fitzgerald foi uma das maiores cantoras de jazz de todos os tempos, ganhando o título de Primeira Dama da Canção por sua voz única e habilidade incomparável. Além de sua contribuição para o mundo da música, ela lutou contra a discriminação racial como uma artista negra durante a era Jim Crow, estabelecendo um legado de resiliência e excelência musical.
Sua interpretação de “A-Tisket, A-Tasket” se tornou um sucesso em 1938 e a catapultou para o estrelato. Ela foi a primeira mulher negra a se apresentar na Casa Branca, em 1958, e recebeu 14 prêmios Grammy ao longo de sua carreira. Em 1991, foi homenageada com o Kennedy Center Honors, um dos maiores prêmios das artes nos Estados Unidos.
Mariah Carey
Mariah Carey é uma das artistas mais bem-sucedidas da história da música pop, conhecida por seus falsetes sem igual e tino para criar hits nas paradas. Sua capacidade de reinventar-se e manter-se relevante ao longo de décadas solidificou seu lugar como uma das maiores divas da música.
Alguns marcos impactantes são o de artista solo com mais singles em primeiro lugar na Billboard Hot 100 (19!), cantora solo com mais álbuns número um na Billboard 200 (cinco) e artista feminina com mais álbuns de Natal vendidos.
Nina Simone
Nina Simone foi uma cantora, pianista e compositora americana que quebrou barreiras raciais e de gênero na indústria musical.
Ela era conhecida por sua voz poderosa e seu ativismo político. Simone desafiou o racismo na indústria musical, recusou-se a se submeter à segregação racial dos anos 50 e lutou por igualdade de tratamento. Em 1963, ela se negou a se apresentar para um público segregado em um clube de Nova Orleans. Um ano depois, lançou a música “Mississippi Goddam”, uma poderosa canção de protesto que se tornou um dos símbolos do movimento por direitos civis.
Em 1969, Simone se apresentou no Festival de Música de Newport, onde cantou uma versão emocionante da música “To Be Young, Gifted and Black”. Por tudo isso, Nina Simone foi uma artista pioneira que deixou um legado duradouro. Ela inspirou e influenciou artistas de todo o mundo, e sua música continua a ser relevante e poderosa até hoje.
MC Sha-Rock
A MC Sha-Rock é uma figura crucial na história do Hip Hop. Ela foi a primeira mulher a assumir o papel de MC em um grupo, desafiando estereótipos de gênero e abrindo espaço para outras mulheres seguirem seus passos.
Sha-Rock é conhecida por suas habilidades de improvisação, ritmo e flow, inspirando diretamente artistas como Queen Latifah, MC Lyte, Lauryn Hill e Missy Elliott. Apesar de não se apresentar com tanta frequência, Sha-Rock continua ativa, palestrando em eventos, educando jovens sobre a história do Hip Hop e incentivando a participação feminina.
Chiquinha Gonzaga
Chiquinha Gonzaga foi uma compositora, pianista e maestrina brasileira que viveu no século XIX e início do XX.
Por ser daquela época, tornou-se uma figura pioneira em vários aspectos. Foi a primeira mulher a compor para o teatro nacional, assinando dezenas de peças teatrais; foi a autora da primeira marchinha de carnaval da história, em 1899, com “Ó Abre Alas”; foi a primeira mulher a reger uma orquestra popular no Brasil em pleno 1885; incorporou em suas composições ritmos populares como o choro, o maxixe e o lundu, criando um estilo musical único e inovador.
Além disso, foi uma das primeiras artistas a defender os direitos autorais de músicos e autores teatrais no Brasil e foi ativa na luta pela abolição da escravidão e pelos direitos das mulheres. Ainda assim, tentam reduzi-la ao “escândalo” de sua vida pessoal: uma mulher divorciada casando com um homem 16 anos mais jovem. Absurdo, não?
Sylvia Robinson
Sylvia Robinson foi uma artista, produtora musical e executiva de gravadora. Ela é considerada a “Rainha do Hip Hop” por seu papel fundamental no desenvolvimento e popularização do gênero.
Sylvia fundou a Sugar Hill Records em 1979, primeira gravadora dedicada ao Hip Hop e responsável por lançar “Rapper’s Delight”, do Sugarhill Gang, e “The Message”, do Grandmaster Flash and the Furious Five. Sylvia inclusive produziu “Rapper’s Delight”, ajudando a apresentar o Hip Hop a um público mais amplo. Além disso, foi responsável por descobrir e lançar a carreira de vários artistas importantes, como Melle Mel and the Furious Five e Funky 4 + 1. Sylvia ainda foi uma das primeiras a usar samples.
Embora Sylvia Robinson seja considerada uma figura controversa, o papel dela no desenvolvimento do Hip Hop é inegável. Sylvia foi uma visionária que viu seu potencial e ajudou a torná-lo um dos gêneros musicais mais populares do mundo.
Liniker
Liniker é uma referência na música brasileira, destacando-se como uma das primeiras artistas transgênero do país a ganhar reconhecimento internacional ao vencer o Grammy Latino na categoria de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira em 2022.
Este marco histórico não apenas celebra sua habilidade artística, mas também representa um avanço significativo na representatividade e visibilidade da comunidade LGBTQ+. Tudo graças à sua sonoridade, uma mescla de soul, R&B e música brasileira que não tem paralelos na cena atual.
Liniker também inspirou outros a acreditarem no poder da música como uma ferramenta de inclusão e expressão. Além disso, ela brilha como atriz na série Manhãs de Setembro, do Prime Video, indicada a múltiplos prêmios.
Elza Soares
Poucos artistas são reconhecidos por seus mínimos traços e características, mas Elza Soares seria reconhecida por qualquer brasileiro com o mínimo desenho da sua silhueta; com o menor sinal da rouquidão da sua voz potente.
Isso porque Elza tornou-se símbolo de muitas coisas: da artista suprema que foi; da mulher que supera as violências da vida; e de alguém que usa sua plataforma para não se calar diante das injustiças.
Elza Soares bem que avisou: “Mulher do fim do mundo eu sou e vou até o fim cantar”. Sorte a nossa que ela de fato cantou até se fecharem as cortinas.
Jayne County
Jayne County é considerada uma pioneira na música por sua coragem em desafiar as normas de gênero e sexualidade na cena musical underground.
Como uma das primeiras artistas trans a ganhar visibilidade na indústria da música, County foi uma figura central na cena punk rock de Nova York nos anos 70, desafiando convenções e promovendo a aceitação da diversidade de identidades de gênero e orientações sexuais.
Sua música ousada e provocativa abordava temas de identidade, sexo e liberdade de expressão, tornando-a uma voz importante para a comunidade LGBTQ+ e uma inspiração para artistas posteriores. Jayne County também influenciou profundamente a estética e a cultura punk.
Todas essas artistas mostram o quanto as mulheres conseguiram avançar no mercado da música, à base de muita resiliência. E continuarão avançando, desafiando paradigmas e incomodando as estruturas vigentes, até que line-ups igualitários e presença nas premiações deixem de ser notícia – e sejam apenas rotineiros.
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