Os Estados Unidos têm mais de 16 mil campos do esporte, que consomem um bilhão e meio de galões de água por dia
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Em uma banca de areia, havia grama que fora arrancada e, em outra, blocos de madeira e um castelo de brinquedo, prova de que crianças tinham brincado ali. As pessoas passeavam com o cachorro no gramado, que estava bastante irregular e malcuidado – o que não era nenhuma surpresa. Atualmente, esses terrenos são cortados apenas duas vezes por ano e não recebem pesticidas ou raticidas desde 2018, quando esse trecho de 157 acres de terra deixou de ser o Campo de Golfe San Geronimo e começou a se tornar selvagem, ou pelo menos mais selvagem, mais uma vez
Ariana Drehsler/The New York Times – 09.01.2024
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Um número pequeno de campos de golfe fechados em todo o país foi comprado por fundos imobiliários de terras, municípios e grupos sem fins lucrativos e transformado em reservas naturais, parques e zonas úmidas. Há locais assim em Detroit, na Pensilvânia, no Colorado, em Finger Lakes, no norte do estado de Nova York e pelo menos quatro na Califórnia
Jim Wilson/The New York Times – 17.01.2024
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“Reconhecemos rapidamente o alto valor de restauração, o valor de conservação e o valor recreativo de acesso público”, declarou Guillermo Rodriguez, diretor estadual da Califórnia da organização sem fins lucrativos Trust for Public Land, que comprou o campo de San Geronimo no condado de Marin por US$ 8,9 milhões em 2018 e o rebatizou de San Geronimo Commons
Jim Wilson/The New York Times – 17.01.2024
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Durante uma visita recente ao terreno, que fica na parte baixa do Vale de San Geronimo, a menos de uma hora de carro ao norte de San Francisco, Rodriguez apontou para colinas que servem de habitat para a vida selvagem, incluindo falcões que estavam sobrevoando o local. “Em ambos os lados, existem terras públicas. Esse era o elo que faltava”, disse ele
Ariana Drehsler/The New York Times – 09.01.2024
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A restauração das terras de San Geronimo continua em andamento. As planícies de inundação serão reconectadas e uma barreira contra peixes foi removida, permitindo o acesso a áreas de migração e reprodução mais robustas para o salmão prateado e a truta-arco-íris, ambos ameaçados de extinção. Foram planejadas trilhas que contornam habitats sensíveis, transformando o terreno em um bote salva-vidas ecológico acessível ao público, totalmente diferente de quando era um campo de golfe. “Este lugar é ótimo, lindo. Adoro aqui”, disse Charles Esposito, de 76 anos, aposentado que estava desfrutando um passeio recente
Jim Wilson/The New York Times – 17.01.2024
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Nos últimos anos, o setor de golfe tomou medidas para reduzir seu impacto ambiental em alguns lugares, usando menos água, semeando plantas favoráveis aos polinizadores e diminuindo o uso de pesticidas e fertilizantes.
Mas os recursos e os produtos químicos necessários para obter um gramado perfeito para o golfe tornaram o esporte um pesadelo dos ambientalistas. Os cerca de 16 mil campos do esporte nos EUA usam um bilhão e meio de galões de água por dia, de acordo com a Associação de Golfe dos Estados Unidos, sendo tratados coletivamente com cem mil toneladas de nitrogênio, fósforo e potássio por ano
Jim Wilson/The New York Times – 17.01.2024
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O país tem mais campos de golfe do que as unidades do McDonald’s e também mais do que qualquer outra nação, representando aproximadamente 42 por cento de todos os campos do mundo, de acordo com a Fundação Nacional de Golfe
Ariana Drehsler/The New York Times – 09.01.2024
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Aliado às pressões de desenvolvimento, esse excesso de oferta fez com que mais campos de golfe fossem fechados do que abertos desde 2006. O retorno à natureza, ou uma versão dela, ainda é uma relativa raridade para antigos campos de golfe, a maioria dos quais acaba nas mãos de incorporadores comerciais ou residenciais, de acordo com a Fundação Nacional de Golfe. Um exemplo recente foi um antigo campo de golfe de 36 buracos, em New Hampshire, que a Target comprou por quase US$ 122 milhões em 2023 para construir um novo centro de distribuição
Jim Wilson/The New York Times – 17.01.2024
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Para que um campo de golfe seja transformado em um espaço verde público, é necessário um improvável alinhamento de astros. É preciso haver um vendedor disposto a vender e, principalmente, um comprador preocupado com a conservação que possa se dar ao luxo de não apenas de comprar o terreno, mas também de restaurá-lo. De acordo com Eric Bosman, planejador urbano da empresa de design e planejamento Kimley-Horne, 28 antigos campos de golfe foram transformados em espaços verdes públicos entre 2010 e outubro de 2022
Jim Wilson/The New York Times – 17.01.2024
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Mas o número parece estar crescendo lentamente. Em 2023, o antigo campo de golfe Cedar View, na costa leste do Lago Cayuga, no norte do estado de Nova York, foi comprado pela ONG Finger Lakes Land Trust. Outra organização sem fins lucrativos, a West Lake Art Conservation Center, planeja transformar cerca de 230 acres do Lakeview Golf Country Club em Owasco em uma reserva natural
Jim Wilson/The New York Times – 17.01.2024
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Embora a renaturalização de um campo de golfe possa decepcionar os jogadores, ela pode trazer grandes benefícios para os animais, as plantas e as pessoas.
Algumas centenas de quilômetros ao sul de San Geronimo, em um trecho de terra de propriedade da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, a área de 64 acres que antes abrigava o campo de golfe Ocean Meadows agora é um estuário cercado por pastagens, pântanos salgados e ilhas de vegetação rasteira costeira
Ariana Drehsler/The New York Times – 09.01.2024
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O proprietário anterior havia planejado vender o campo para uma incorporadora de moradias, mas foi impedido pela recessão de 2008, de acordo com Lisa Stratton, diretora de gerenciamento de ecossistemas do Centro Cheadle para Biodiversidade e Restauração Ecológica, pertencente à universidade, que administra o terreno. A universidade contou com a ajuda da Trust for Public Land, que comprou a propriedade por US$ 7 milhões em 2013 e a doou à instituição
Ariana Drehsler/The New York Times – 09.01.2024
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A extensa restauração do local em Santa Bárbara demandou anos e foi financiada com US$ 16 milhões em subsídios locais, estaduais e federais. Isso incluiu a transferência de 350 mil jardas cúbicas (aproximadamente 270 m3) de solo que os desenvolvedores do campo de golfe retiraram das montanhas próximas e colocaram sobre os pântanos para criar o campo décadas atrás. As áreas alagadas reabilitadas agora reduzem os riscos de inundação e protegem contra o aumento do nível do mar, disse Stratton. A mudança também impactou as casas próximas, que passaram a não estar mais em uma zona de inundação federal. Sem as bolas de golfe voando no ar, o terreno se tornou habitat de aves costeiras migratórias, entre elas as aves perna-de-pau, maçarico-grande-de-perna-amarela e narceja. E atraiu até mesmo o furtivo abetouro-americano. As estruturas de rocha subterrâneas recém-instaladas oferecem habitat para coelhos, esquilos terrestres, camundongos e corujas-buraqueiras
Jim Wilson/The New York Times – 17.01.2024
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Duas plantas ameaçadas de extinção segundo o governo federal, a ervilhaca leiteira do pântano Ventura e a bico de pássaro do sapal, também foram estabelecidas no local, parte de um esforço para levar algumas plantas para o norte, já que o habitat delas está ficando muito quente. Os alunos da universidade participaram do trabalho de restauração e rastrearam centenas de espécies de animais
Ariana Drehsler/The New York Times – 09.01.2024
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Em Palm Springs, alguns vizinhos do antigo Mesquite Golf Country Club resistiram aos planos de restaurar o terreno a seu estado natural, alegando que preferiam a vista proporcionada por um campo de golfe de 18 buracos bem cuidado “Antes, tínhamos uma vista muito bonita do campo de golfe até as montanhas. Mas, desde que a Oswit Land Trust comprou o campo de golfe por US$ 9 milhões em 2022, a área se encheu de ervas daninhas, árvores mortas e galhos caídos. É basicamente uma área malcuidada”, disse Don Olness, que faz parte da diretoria da associação de proprietários de um condomínio vizinho
Jim Wilson/The New York Times – 17.01.2024
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Citando um contrato de arrendamento com os donos do campo de golfe, a associação de proprietários entrou com uma ação judicial para impedir temporariamente quaisquer alterações feitas pelo fundo imobiliário de terras, que comprou o campo com uma doação de Brad Prescott, um filantropo, e o rebatizou de Prescott Preserve.
Segundo Jane Garrison, fundadora e diretora executiva do fundo, a ação judicial pendente está impedindo que a organização tenha acesso a um subsídio multimilionário necessário para restaurar adequadamente a terra. Mas, das cinco propriedades do fundo, a Prescott Preserve se tornou rapidamente a mais popular
Jim Wilson/The New York Times – 17.01.2024
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Garrison contou que o fundo removeu o veneno do galpão de manutenção do campo, além de veneno e armadilhas para esquilos em todo o local. Ela e seus colegas encontraram coelhos e corujas mortos e um exame confirmou que um esquilo terrestre havia morrido depois de consumir raticida, o que torna predadores como coiotes e linces suscetíveis à sarna. “Quando você remove todo o veneno e interrompe esse ciclo, dá a essas espécies a chance de se recuperar”, observou ela
Ariana Drehsler/The New York Times – 09.01.2024
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Embora a restauração esteja apenas começando, as flores e plantas silvestres já reapareceram, disse ela. Cerca de cem árvores nativas, incluindo o salgueiro do deserto, o pau-ferro e a algaroba, foram doadas por um viveiro local e plantadas. O fundo decidiu manter lagoas no local com água de reúso porque a mudança climática dificultou o acesso da vida selvagem a esse recurso natural
Jim Wilson/The New York Times – 17.01.2024
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O grupo espera adquirir mais campos de golfe em Palm Springs, que, apesar de estar em um deserto, abriga muitos campos. “Quando a terra se vai, é para sempre, uma vez que se constroem condomínios, mas, quando você a salva, ela é salva para sempre. Não se pode colocar um preço nisso”, disse Garrison
Ariana Drehsler/The New York Times – 09.01.2024
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